domingo, 23 de outubro de 2011

Acadêmicas da AMULMIG - Homenageadas pelo Lions

Acadêmicas da AMULMIG
Homenageadas pelo Lions
 
César Vanucci - Membro da AMULMIG e Jornalista
 
 
Na celebração do “Dia Mundial do Serviço Leonistico” (oito de outubro), o Distrito LC-4 do Lions Clube, composto de 70 Núcleos, homenageou 30 Mulheres de realce da vida cultural, científica, política e social. A solenidade, concorridíssima, foi realizada no majestoso Auditório JK, da Cidade Administrativa.
Entre as homenageadas figuram quatro Acadêmicas dos quadros da AMULMIG: Andreia Donadon Leal, Angela Togeiro, Cely Maria Vilhena Falabella, Conceição Parreiras Abritta.
 
O Presidente da Comissão Organizadora da comemoração, Cesar Vanucci, também membro da AMULMIG, foi o orador oficial.
O discurso por ele proferido é o que se segue.
Antes de tudo mais, falando em nome da Comissão Organizadora, desejamos saudar, com efusão fraternal, todas as pessoas aqui reunidas, companheiros do movimento leonístico, autoridades, homenageadas, convidados em geral. Fazemos isso nas pessoas de Vilma Raid Fernandes, primeira Mulher a comandar os destinos do Distrito LC-4 do Lions; de Fábio Oliveira, presidente do Conselho de Governadores do Múltiplo LC; de Sóter do Espírito Santo Baracho, presidente da Academia Mineira de Leonismo; do Deputado Doutor Viana, valoroso Companheiro Leão e digno parlamentar, representante da Assembléia Legislativa de Minas Gerais; Saudamos Rosane Terezinha Jahnke Vailatti, tocados pela expectativa e esperança de vê-la galgar, em breve, na condição de primeira mulher a fazê-lo, o topo diretivo da maior organização de serviços do mundo.
Recebemo-la aqui, caríssima Rosane, neste amorável encontro de confraternização, juntamente com as outras valorosas homenageadas e com nossa primeira governadora, Vilma, como um símbolo da Mulher deste século 21. Um ser humano na plenitude de suas prerrogativas, que soube sobrepujar penosos obstáculos em sua trajetória emancipacionista, erguidos por milenares despropósitos masculinizantes, nascidos de processos culturais despojados de humanismo e espiritualidade. Valho-me desta ocasião para registrar com o mais intenso regozijo, o anuncio, ontem feito da concessão do Premio Nobel da Paz deste ano que contemplou três Mulheres valorosas. Da Libéria e do Iêmen, países um tanto quanto esquecidos do resto do mundo.
 
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,
 
“Tirante a mulher, o resto é paisagem”.
(Dante Milano, poeta)
 
A dolorida história da emancipação e promoção da mulher simboliza, melhor do que qualquer outro esforço humano de ascensão política, cultural, social, econômica, a história por inteiro das lutas pela conquista dos direitos da cidadania.
Nos óbices defrontados nessas lutas heróicas estão contundentemente inseridos abjetos preconceitos, aviltantes discriminações, asfixiantes camisas-de-força, dogmas esclerosados, presentes, a todo momento, na convivência humana. Frutos malsãos do obscurantismo, do machismo castrador, da insensibilidade para se compreender o sentimento do mundo, o sentido cósmico da vida.
Não é difícil detectar, em instantes de trevas, decretadas pelo preconceito e pela discriminação, que a mulher é invariavelmente penalizada em dobro, em relação ao homem. O racismo a alveja por ser negra, por ser cigana, por ser índia, por ser judia, ou por não ser negra, nem cigana, nem índia, nem judia, e por ser mulher. Ela paga o pato, por assim dizer, por pertencer à etnia errada, em lugares ou momentos errados, na concepção do radicalismo dominante em determinado cenário, e por ser mulher. Por pertencer à religião enjeitada, nas mesmas circunstâncias de ambiente e época, e por ser mulher. Assim por diante.
 
Comecinho da década de 50,
uma cidade do Interior de Minas
 
Cena da infância, recolhida nas ladeiras da memória. Vejo desenhado ali o perfil da primeira líder feminista que provavelmente conheci. Uma moça de seus trinta anos, dona de semblante extremamente simpático e de corpo bem proporcionado. Trescalava obstinação pelos poros.
Revejo-a descendo a ladeira que dava num campo de futebol improvisado, onde a molecada tocava suas peladas movidas a bola de pano, brigas inofensivas e um que outro palavrão ingênuo, às vezes punido com chinelada. A sensação passada era de que Verlaine teria descoberto naquele gracioso desfile vespertino - um gingado coreograficamente impecável - inspiração para seus versos: “Quando ela anda, eu diria que ela dança.” (“Quand’elle marche, on dirait qu’elle dance”)
Pontualidade, um atributo todinho seu. Podia-se acertar relógio à sua passagem. Naquele justo momento as janelas se fechavam estrepitosamente, em sinal de zanga malcontida. Olhares e murmurações recriminatórios acompanhavam-lhe a trajetória graciosa por detrás das venezianas, até que escapulisse por completo no raio de visão do falso puritanismo entocaiado. Tudo compunha clima de excitante e novelesco mistério. Mistério que aguçava demais da conta a cabeça da gente. Por que as coisas corriam daquela maneira? O que a nossa heroína andava aprontando?
Prepare-se a benevolente platéia para um baita impacto. A nossa personagem, apenas e simplesmente, foi a Mulher que primeiro ousou, naquela aprazível cidade do interior, a desfazer os laços indissolúveis e sagrados do casamento, por meio de proposta de ação de desquite, com um cidadão considerado de reputação ilibada no meio comunitário, ao se ver alvejada constantemente por atos de violência doméstica e pelo comportamento adúltero do parceiro. Ousou mais – “imaginem só o descaramento!” – foi a primeira mulher a desafiar a moral e os bons costumes da sociedade, ao sair vestida de calça comprida nas ruas. E o que é “pior”: às vezes, Santo Deus, fumava em público!
Tais lembranças, até certo ponto hilárias, de simbólico surrealismo, chegam a propósito da temática que nos reúne neste amorável encontro de reflexão e confraternização.
 
Setembro de 2011, sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque
 
Pela primeira vez na historia da ONU, a Assembléia Geral das Nações Unidas é solenemente aberta com a fala de uma Mulher.
Uma brasileira, a Presidenta Dilma Rousseff, Mulher torturada no cárcere, pelo terrorismo de Estado num instante trevoso da história, reconhece, sensatamente, que o Brasil, como os demais paises, ainda precisa fazer muito mais pela valorização e afirmação da mulher, confessando-se orgulhosa de representar, naquele instante, todas as mulheres do mundo. As anônimas que passam fome, as que padecem de doenças, as que sofrem violência e são discriminadas, por exploração econômica, pelo farisaísmo encapuzado, por fanatismo religioso em diferentes latitudes geográficas e culturais do planeta.
São significativos, é bem verdade, em nosso País sobretudo depois da Constituição Cidadã de 88, os avanços conquistas constatados no desenvolvimento pessoal da Mulher. A trajetória de vida de nossas homenageadas oferece, aliás, relato auspicioso dessas conquistas. Mas existe, ainda, forçoso reconhecer, um oceano inteiro de problemas a ser navegado na busca das soluções mais compatíveis, neste capitulo da aventura humana, com a dignidade das criaturas.
De qualquer forma há que se celebrar a utilização, cada dia mais acentuada, do real potencial humano criador do antigamente e impropriamente chamado sexo frágil.
Considerada por Heidegger, autêntica “clareira do ser”, a Mulher vem assumindo gloriosamente a palavra, como propõe Elza Tamesi ao apontar o rumo a ser seguido: “Fiz um salto na vida. Deixei de ser eco e passei a ser voz!”
E, por derradeiro, como fruto de inquietação do espírito – consciente de que o espírito humano é que nem o páraquedas: só funciona aberto, como lembra Louis Pauwells  -; e, por derradeiro, repito, trago aqui à reflexão, por parte dos que trabalham incansavelmente em favor da construção de um mundo melhor, mas também dos que, por ignorância ou  miopia social, perseveram na pratica de atos que empobrecem e aviltam a dignidade feminina, uma singela interrogação.
Interrogação que pode parecer um tanto quanto  instigante. E se, de repente, no dia do Juízo final, na hora crucial e decisiva da prestação de contas dos atos praticados em nossa peregrinação pela pátria dos homens, cara a cara com a Suprema Divindade, carregando bem nítida a imagem que do Criador de todas as coisas conservamos em razão de amadurecidas convicções religiosas pessoais, e se nessa hora precisa, a gente descobrir, embargados pela emoção, muitos até tomados de santa estupefação, que Deus é mulher?
E negra?
“Negra – evocando belíssimo poema de Langston Hughes, decorado na adolescência distante -, negra  como a noite é negra.
Negra como as profundezas d’África.”      Palavra de Leão!”
 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lançamento de livros de Membros da AMULMIG

 Livro da Acadêmica CARMINHA XIMENES - clique na imagem para ampliar
 Exposição e lançamento de livro da acadêmica Maria Natalina Jardim - clique na imagem para ampliar
Livros dos acadêmicos, Gabriel Bicalho e Andreia Donadon Leal - clique para ampliar

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Era uma vez no Iêmen

Era uma vez no Iêmen

Cesar Vanucci *


“Agradeço a ajuda dos Estados Unidos e da Arábia Saudita”.
(Palavras de Ali Abdullah Saleh, ditador apeado do poder,
 na volta inesperada ao palácio governamental)


Os democratas autênticos acompanham com um nó apertado no peito os desdobramentos das insurreições populares em territórios árabes. Percebem, com disfarçável inquietação, que em razão das indesejáveis tricas e futricas diplomáticas de bastidores muitas coisas que pareciam ser já não mais são.

Por força de um jogo sibilino promovido por conveniências poderosas, os objetivos dos movimentos populares em prol das liberdades públicas, vêm sendo distorcidos, aqui e ali, cedendo lugar a remanejos e reacomodações inimagináveis, capazes perfeitamente de sufocarem os sonhos e as esperanças levados, sobretudo pelos jovens, às ruas e praças convulsionadas.

O caso do Iêmen, que não é positivamente um caso isolado, reveste-se de caráter emblemático assustador. O dirigente supremo do país, Ali Abdullah Saleh, foi desafiado pelas multidões. Reprimiu com extrema ferocidade as manifestações, na mesma linha demencial de outros déspotas da região. A mídia internacional cobriu os acontecimentos, durante certo período, com enorme realce. Montou, pode-se dizer, uma crônica diária dos acontecimentos, de alguma maneira criando atmosfera favorável à retirada de cena do abominado ditador. Retratou, com abundancia de pormenores, sua trajetória sanguinária que tantos malefícios rende ao povo iemenita.

A enfática cobertura se estendeu até o momento em que Ali Abdullah Saleh foi alvejado na ocupação do palácio presidencial pelas forças insurgentes e conduzido, às pressas, em estado grave, para a Arábia Saudita, em busca de cuidados médicos. Os despachos dos correspondentes deram por vitoriosa, nessa precisa hora, a luta empreendida pela população no sentido de desalojá-lo do poder.

De repente, não mais do que de repente, o Iêmen e seu detestado dirigente tomaram “chá de sumiço” (como se dizia em tempos antigos) no noticiário nosso de cada dia. Deixaram, surpreendentemente, de frequentar os boletins da televisão e as colunas dos jornais. Silêncio sepulcral se abateu sobre os fatos políticos desenrolados no país e sobre seu personagem central.

Até que, pra aturdimento geral, a mídia resolveu, de novo – sem deixar à mostra a mais ligeira disposição pra explicar o que andou ocorrendo no país nesse razoável intervalo – “redescobrir” o presidente deposto. Localizou-o, são e salvo da silva, já “recuperado” dos ferimentos, a reassumir, “gloriosamente”, sem enfrentamentos aparentes, o posto de comando no palácio governamental em Sana, como se nada de relevante e impactante do ponto de vista político houvesse sucedido pratrazmente. A informação laconicamente transmitida é de que o dito cujo acabara de retornar da viagem feita à Arábia Saudita, após o internamento hospitalar, retomando a rotina dos despachos. E, por acréscimo, anunciando a firme e “saudável” disposição de entabular negociações em torno dos rumos futuros da nação. Das multidões e das lideranças sublevadas não se ouviu falar mais nadica de nada. Em pronunciamento pela televisão, Ali Abdullah Saleh confessou-se agradecido aos Estados Unidos e Arábia Saudita “pela valiosa ajuda recebida”, acentuando que seu governo vai combater com o máximo rigor o terrorismo. Mas não deixou explicitado se as forças terroristas citadas seriam os adversários que o afastaram (pelo visto, apenas temporariamente) do poder.


* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


domingo, 2 de outubro de 2011

Ora,veja, pois!

Ora, veja, pois!
Cesar Vanucci *

“As relações entre as agências da
Grã-Bretanha e da Líbia ficaram muito próximas...”
(David Cameron, Primeiro-Ministro britânico)

Notícias que dão muito o que pensar. Provêm do conturbado e incandescente cenário árabe.

A “Carta Capital” assevera que a guerra na Líbia foi, também, em parte um conflito interno dos Estados Unidos. Explica porquê. Enquanto Barack Obama festejava a vitória dos rebeldes, conquistada com a ajuda militar da OTAM, a “Al-Jazira”, bem informada rede televisiva, revelava que David Welch, ex-Subsecretário de Estado do governo Bush Júnior, antecessor republicano do atual mandatário norte-americano, reuniu-se com funcionários do ditador Muamar Kaddafi – vejam só a data – em dois de agosto último, quando o triunfo dos insurretos já se delineava claramente no horizonte, para orientá-los a procurar uma saída da encalacrada em que se meteram. A orientação – pasmo dos pasmos! – foi no sentido de que Kaddafi buscasse entrar em contato com o serviço secreto de Israel, o célebre Mossad, e agências de inteligência de alguns países árabes com o fito de denunciar a presença, ao que parece já devidamente constatada, nas fileiras dos adversários do tirano líbio, de guerrilheiros da Al Quaeda. O conselho do representante dos republicanos americanos foi mais longe: exortou Kaddafi a explorar a “incoerência do governo Obama”, por haver concordado com a invasão da Líbia embora fizesse questão de se conservar indiferente à brutal repressão policial às multidões atritadas com o governo nos restantes países árabes sublevados. O comentário conclusivo é da revista mencionada: “Nada como um especialista em hipocrisia para denunciar outro.”

Outra notícia pra lá de desconcertante, na mesmíssima linha. Foi distribuída por agências internacionais.

O Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, assegurou, dias atrás, que uma investigação nacional de política antiterrorista vai examinar as acusações de ligações bastante próximas registradas entre os serviços de inteligência de seu país e o regime despótico de Muamar Kaddafi. Acontece que acabam de vir a lume – e isso ocorreu após a queda de Trípoli – alguns documentos altamente comprometedores concernentes a contatos recentíssimos, bastante chegados, entre representantes do M16, serviço secreto inglês, e o sistema equivalente da cambaleante ditadura líbia. Os documentos demonstram que elementos da oposição a Kaddafi, capturados por agentes britânicos, eram habitualmente entregues às forças policiais líbias. Para tornar a situação ainda mais embaraçosa e perturbante, o cidadão líbio Abdel-Hakim Belhaj, que não é outro senão o comandante militar em chefe das tropas rebeldes que se opuseram a Kaddafi, acusou frontalmente a Inglaterra e os Estados Unidos de planejarem sua captura, para entrega à ditadura, além de haverem enviado agentes para acompanhar o interrogatório, tocado na base de tortura, a que foi submetido nos porões do regime de Trípoli. Sua captura – acrescentou – ocorreu em 2004, em Bangcoc, Tailândia, numa ação conjunta do M16 e CIA.

O governo de Sua Majestade – segundo a mesma fonte – assinala agora que os documentos liberados são reveladores de que, sob a última administração britânica, comandada por Tony Blair, como se recorda, fiel aspençada do xerife Bush, as relações entre as agências de inteligência da Grã-Bretanha e da Líbia de Kaddafi “ficaram muito próximas, particularmente em 2003”. O parlamentar Jack Straw, que exerceu o cargo de Secretário do Exterior no governo trabalhista de Blair, naquele ano (2003), confessa, candidamente, que seu país era “totalmente contrário a aplicação de tortura”, mas reconhece ser “totalmente correta” a investigação proposta com o objetivo de examinar as acusações de que o Reino Unido ofereceu apoio inconveniente ao ditador Kaddafi.

Essa sequência nauseante de atos atentatórios à dignidade humana e de retórica hipócrita semeiam justificados temores e incertezas. O jogo sibilino das grandes potências no xadrez político árabe pode deixar sem resposta convincente o apelo pró democracia que, na essência de sua manifestação inconformista, gigantescas e entusiásticas multidões, com predominância de jovens, levaram às ruas e praças em históricas passeatas da assim chamada “Primavera árabe”.
Ora, veja, pois!

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)