quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Óbvio Ululante

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O ÓBVIO ULULANTE
Andreia Aparecida S. Donadon Leal-Deia Leal
Falando em aniversários de instituições culturais, de pessoas comuns, de famosos; esses com direito a uma tremenda propaganda nos jornais, em colunas sociais de revistas; por exemplo, a Revista Gontigo! publica continuamente festas de famosos; casamentos de milionários, etc., mas de gente famosa que está em evidência. Nada contra, esse é o marketing da revista e de muitas outras. Tudo depende do interesse mercadológico e midiático, de temas atuais e de interesse; escândalos também dão excelentes notícias em jornais e telejornais. Acidentes de grande dimensão, da natureza ou cometidos pelo homem, às vezes, ficam semanas no ar ou estampados nas páginas dos jornais. É só lembrar-se da tragédia das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. De manhã, de tarde, à noite, de madrugada, todos os dias, a televisão acompanhava ao vivo, com repórteres que corriam freneticamente, em busca de “algum furo” jornalístico. Também nada contra! Os jornais devem transmitir e informar à população sobre as ocorrências no mundo. A informação é crucial para todos, sem sombra de dúvida. Às vezes, no entanto, há exagero, dramatização, apelação, ou perguntas indiscretas de alguns repórteres que entrevistavam sobreviventes (os que perderam a família inteira na tragédia) – Como você está se sentindo? A resposta era óbvia no rosto do entrevistado; óbvio ululante, claríssimo, gritante, insofismável. A pergunta do repórter, óbvio ululante revigorado de estupidez, de indelicadeza e da mais rebaixada parvoíce.   
Outra notícia que gerou discussões e grande mídia foi o anúncio da aposentadoria do “fenômeno”, conhecido por todos como Ronaldo. O menino prodígio fez sucesso no exterior e no Brasil, sua contribuição para o esporte ficará na história. Ronaldo aposentou-se jovem. Informou que sente dores constantes nas articulações e tem dificuldades para emagrecer, por causa de disfunção tireoidiana – o Hipotiroidismo.  Algumas pessoas ironizaram a atitude do atleta, dizendo que era desculpa esfarrapada. Médicos também afirmaram que bastava tomar medicação (nesse caso – a tiroxina) para estabilizar o nível do TSH no sangue. Disseram ainda que o uso contínuo do remédio, não apresenta efeitos colaterais. Explicação insossa!  Eu tenho Hipotiroidismo há oito anos. Tenho dificuldades para emagrecer; tenho dores nas articulações, durmo mais do que antes e o nível de TSH está normal.  Direito de ele se aposentar; pois ninguém melhor do que ele, para saber das limitações e mudanças ocorridas em seu corpo, por causa dessa doença crônica. O tratamento para quem tem Hipotiroidismo é tomar remédio o resto da vida. Não acredito que o hormônio sintético não apresente efeitos colaterais, ou que sua ação seja igual a do hormônio produzido naturalmente pela tireóide.    
Mais um assunto que dá ibope é o Big Brother Brasil. Não só altos índices de audiência e de faturamento com propagandas, merchandising, cobranças de tarifas de telefonemas para eliminar os emparedados; mas também xingos, lamentações, torcidas, adorações e aborrecimentos de telespectadores. Para a maioria dos participantes do programa, fama passageira, e para pouquíssimos, entrada para o mundo das celebridades. O BBB está na 11ª edição. As regras do reality show são conhecidas. Os escolhidos ficam “trancafiados” em uma casa cumprindo provas e tarefas, de preferência as que possam incluir marcas famosas de produtos para o merchandising. Algumas são banais, outras mais apertadas, como por exemplo, as provas do líder que testam resistência física.  Os famosos brothers ficam expostos vinte e quatro horas por dia, às câmaras da Rede Globo, e ainda têm que aprender a conviver com pessoas de hábitos e costumes diferentes, sob o mesmo teto. Para mim, essa é uma grande prova de resistência.  
O BBB está comemorando onze anos de óbvio ululante. É assunto nos jornais, na televisão, nas revistas, na internet, na boca do povo. Muitos telespectadores não gostam, mas há pessoas que adoram e ficam à espera do programa diário; do anúncio conhecidíssimo de Pedro Bial – Sejam bem-vindos ao BBB11! Ou da famosa frase – Vamos dar aquela “Espiadinha”, ou seja, o ato de buscar prazer ao bisbilhotar a vida de outras pessoas.   E você poderá espiar à vontade, sem dor na consciência, a vida de pessoas comuns ao vivo (com permissão delas, é claro), ao invés de ficar espiando escondido, a vida de seu vizinho ou dos outros. Há os que optam por não assistir ao reality show. Há ainda, os que acreditam, ou são influenciados por outros, que a televisão está passando mau exemplo para os jovens. Os brothers não mostram algo que ainda o telespectador desconheça ou com que nunca tenha convivido. Briga, bate-boca, disputa pelo poder, problemas de relacionamentos, mentiras, traições, amores, paixões, escândalos, festas, tudo isso faz parte da vida. Não vivemos no mundo das delicadezas, da igualdade, da amizade, da fidelidade e da justiça (apesar de ser necessário)... A sociedade é competitiva desde o nascimento do mundo e isso é fato.
 A cada ano, mais se evidencia que o óbvio venha mais revigorado de realidade, pois sabemos (sem hipocrisia) que o conteúdo do programa não causa estragos a ninguém, pois tão óbvio ululante como o BBB11 é a realidade, sem cortes e maquiagens. Não duvidem: o BBB não causa prejuízo a ninguém, pois expõe apenas a realidade nua e crua; as mazelas e os desatinos da vida, os problemas de relacionamentos, a competitividade que eu, você, enfim, o ser humano vive diariamente no trabalho e no mundo, com um diferencial: o mundo da convivência amplificado pela espetacularização. Essa é a maior prova de fogo e exemplo: a convivência do dia-a-dia, dando espetáculo.
 E para quem não gosta do programa, o óbvio ululante é desligar a televisão, mudar de canal, ou melhor, ler um livro.


Andreia Aparecida Silva Donadon Leal - Deia Leal
Diretora de Projetos do Jornal Aldrava Cultural
Governadora do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais-Minas Gerais
Presidente Fundadora da ALB-Mariana

Mestranda em Literatura-Cultura e Sociedade pela Universidade Federal de Viçosa 
Exposição Virtual de Obras de Arte:

http://www.artelista.com/slideshow.php?a=8584387574870269&t=1


http://deialeal.artelista.com/

SIMPLICIDADE

Imagem enviada pela Acadêmica Vilma Cunha Duarte


Simplicidade                         
Vilma Cunha Duarte
Bem que a vida da gente poderia ser de vez em quando, capítulo de final de novela.
Bastava um chega pra lá na realidade sem retoque, pra viver tudo de bom  com mentirinha.
Cifras astronômicas  são gastas para vender  ilusões em conta-gotas aos  milhões e milhões de viciados na telinha, na hipnose benfazeja de esquecer as inquietações do dia a dia.
Nas tramas diárias finge-se desconhecer o óbvio ululante e  o povão fiel e cúmplice na poltrona, garante o ibope milionário  dos vendedores de fantasias.
Por inverossímil que pareça, tem gente que ainda confunde a ficção com o real.
O vilão leva bordoadas de verdade e verbais na rua, enquanto o galã ganha o altar e é adorado como o milagreiro da carência coletiva.
A simplicidade de viver e pensar mesmo morando na selva de pedra, encanta e comove-me.
Os privilegiados do grupo  em extinção passam pela vida imunes  à angústia generalizada, tirando de letra  todo o proveito de ser feliz.
Os simples são otimistas por natureza, amam descomplicados, têm uma fé inabalável, são da paz  e de bem com o mundo.
Para eles a humanidade  é uma confraria fraterna, e Deus o paizão, que tudo pode, decide e provê.
Seus olhos carregam uma luminosidade atraente e santa, decerto, porque enxergam milagrosamente, a essência da criação.
Pouco se lhes dá  se outros transformam chuviscos em tempestades, competem feito idiotas, cobiçam o alheio descaradamente,   vivendo em estado constante de insatisfação.
Os simples são puros  em pensamentos, palavras e ações.
Repartem o seu pouco no maior desapego do mundo, morrendo de sede nas secas, afogados nas inundações, porque sabem de cor todas as lições do amor incondicional.
Não leram  os tantos compêndios, no entanto, falam as sábias palavras sem compromisso  com a linguagem apurada ou regras  gramaticais.
A ignorância inocente, talvez seja escudo contra a dor universal.
Gostaria muito de morar na  "Colônia da Simplicidade", se a achasse.
Mas vi contar que o visto de entrada, não é fácil. Tem de se chegar lá, pagão dos pecados de sobreviver no meio  dos sabichões.
Se despojar-me valesse,  confessaria minhas faltas tão comuns e encontraria lá, quem sabe, o meu canto  de novo.
Levantar-me-ia com o sol, plantaria flores, deixaria a chuva escorrer pelo meu rosto como um choro gigante  de libertação, tomaria banhos demorados na cascata da lua cheia, e enquanto o céu fosse estrelejando com faíscas poéticas cor de prata, eu escreveria um roteiro para os imaculados de coração.
Era uma vez...
                       a última tribo dos bem-aventurados.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Calendário da AMULMIG - 2011

Prezado Acadêmico,   A Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais agradece a sua participação em nossos trabalhos e a presença, imprescindível, às sessões de 2010.
   Para o presente ano, 2011, esperamos contar com a cooperação de toda a nossa entidade e a resposta positiva aos projetos literários programados.
  Os Acadêmicos que quiserem pronunciar palestras e leitura  em prosa ou verso de sua autoria, máximo de 20 minutos, devem se alistar em folha especial para a próxima Sessão marcada.
   Segue a Programação para 2011.
   Esperando realizarmos um ano literário pleno de realizações, boas vindas
                                                               Elizabeth Rennó


Programação para 2011- Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais

Mês de março:
  Início das atividades
     Formação de 3 grupos para pesquisa e apresentação sobre o Movimento Pós.Modernista : Geração de 45.

15-
29-

Mês de abril:

5- sessão Comemorativa pela fundação da Academia Municipalista. Manifestações sobre a data.
19-
Mês de maio:10- Comemoração do Dia das Mães,votação prévia e participação de todos.
24- Apresentação dos trabalhos dos grupos sobre a Geração de 45

Mês de junho
7-
21
-

Mês de julho;
5-

Mês de agosto
2-
16- Comemoração do Dia dos Pais,votação participativa
30
-

Mês de setembro
13-
27-


Mês de outubro
11-
25-


Mês de novembro
8- Homenagem aos Acadêmicos falecidos
22
-

Mês de dezembro
13- Congraçamento Natalino.



  

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Voltando ao poeta Armond

Voltando ao poeta Armond

* Cesar Vanucci

“Qual será, dos poetas,
o mais nobre, aquele que a Bilac se compare?”
(Carlos Drummond de Andrade explicando
como ocorreu a escolha do “Príncipe dos poetas mineiros”)

Brindamos o caro leitor, outra vez mais, com preciosos achados literários “armondianos”. Vem primeiro um poema magistral, inédito, de abril de 1958, há 51 anos, portanto, produzido pelo “Príncipe dos poetas mineiros”. Ao depois, vem  a historieta (extremamente saborosa) sobre como esse honroso título foi acrescentado ao já refulgente currículo do grande poeta barbacenense Honório Armond. A narrativa de como a escolha se deu foi feita em crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Uma, estampada em 3 de fevereiro de 1979 no JB. Outra, no “Estado de Minas”, edição de 19 de novembro de 1977.

“Uma nuvem no Ocaso...” é o título do poema. Armond convida-nos, por assim dizer, a um banho de imersão em poesia pura:
“Viste, acaso, um suavíssimo Poente, / de cinza e rosa, em gemas merencórias, / iluminar-se, inesperadamente, / numa rajada de clarões e glórias?/
...uma nuvem pequena, alta e morrente, / lembrando auroras, madrugadas flóreas, / foi tocada do Sol, subitamente, / e eis que rutila em chamas ilusórias.../
Há-de, em breve, apagar-se, ao vir da treva / que a lento e lento, coleante, adensa, / mortalhando o céu crepuscular.../
Mas, ao sumir-se, no bulcão que a leva, / que sonhos trouxe!...que ternura imensa!.../ quanta palavra reflorindo ao Luar!...”

A palavra agora é passada para o fabuloso Drummond de Andrade. A crônica  mencionada (publicada no JB) traz por título “O príncipe dos poetas”. Reproduzimo-la na íntegra.
“Fazer.
É preciso fazer alguma coisa que pelo menos risque um círculo efêmero na água morta da cidade.
Vamos eleger o Príncipe dos Poetas Mineiros?
Na redação, em mesas próximas, João Alphonsus emite seu sorriso enigmático. Emílio Moura, recém-chegado de galáxia, aprova com doçura.
Mãos à obra!
O eleitorado é quem quiser ser eleitor, principalmente nós, inelegíveis de nascença. Pingam votos esparsos. Desconfiança. Isso é brincadeira de irresponsáveis futuristas?
É sério, gente. Votos para Belmiro Braga, o velho Augusto de Lima e Noraldino e Mário Matos. Poeta nenhum deixa de ter o seu votinho, menos nós, questão de ética ou de tática?
Abgar, nosso amigo, cresce em números, mas se for escolhido vão dizer que a eleição, como as outras, nada vale.
Em apuros estamos. Afinal, qual será, dos poetas, o mais nobre, aquele que a Bilac se compare?
Um não serve por isto ou por aquilo. Outro passou de moda. Outro é feroz contemptor de experiências modernistas.E um príncipe hostil não apetece à nossa moderada veia lúdica.
O estalo nos salva: Honório Armond em sua Barbacena roseiral é altivo, é discreto, é bom poeta. Dará ao fraco título grandeza.
Votação carregada elege-o com destaque. Muito bem.
Mas Honório, mineiro cem por cento, sem recusar redondamente a láurea, responde: “Eu, príncipe? De quê? Só se for, por distinção latina, Princeps Promptorum”...E continuou sereno, silencioso, em seu rosa-lar de Barbacena.”

Na crônica do “Estado de Minas”, que recebeu o mesmo título, Carlos Drummond aborda numerosos aspectos de sua passagem, com outros intelectuais de relevo, pela redação do antigo “Diário de Minas”. O divertido trecho concernente ao tema de que agora nos ocupamos é este: “Nós, redatores jovens, assimilávamos o famoso senso mineiro da ordem, para uso da matéria política. No mais, éramos uns desmandados. Inventamos um concurso para eleição dos poetas mineiros (o que havia de mais incompatível com o modernismo) e mediante processos eleitorais facilmente compreensíveis, demos o título a Honório Armond, poeta discreto que, lá de Barbacena, onde vivia, agradeceu polidamente mas tirou o corpo fora: “De coração, meu bom amigo, acho que esta eleição não representa a verdade. Isto é cabala de estudantes, meus amigos e alunos, e bem sabe que o voto, para nós, nada significa”. E assinou: “Honório Armond, Princeps Promptorum”. Convém esclarecer que pronto, na gíria de então, era o indivíduo sem dinheiro: avalie o que não seria o príncipe dos prontos de Minas Gerais.”


                                   *Jornalista(cantonius@click21.com.br)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Saudade de Mim

Saudade de Mim
* Vilma Cunha
 
 Dona Beja. Pintura de Calmon Barreto
 
Meio dormindo meio acordada, vou arrancando de mansinho, os fiapos do sonho que sonhei. Alguém haveria de explicar direito essa outra vida que a gente tem, enquanto apaga da trivial.
 
Ora de uma clareza instigante, ora de um surrealismo assustador, os sonhos são um enigma. Sem falar em outros, com olhos bem abertos. Vira e mexe, sinto sair de mim e flanar num limbo que não sei explicar.
Vezes sem conta, sei que a situação vivida é-me extremamente, familiar.
E a necessidade de escrever? Convivo com uma avalanche de idéias tão grande que necessito exorcizá-las no papel.
Há quem tenha as respostas para tanto. Eu, não.  Ignorante dos intrincados mistérios dessa vida, deixo a minha pena rolar. Nunca fui de me aprofundar em questões existencialistas. Não daria para filósofa ou coisa e tal.
Há tanta crença fanática em verdades tão esquisitas, baseadas em conceitos personalíssimos de interpretação... Que respeito e passo ao largo.
Minha fé em Deus e nos homens é inocente e cristalina. A mesma dos tempos de criança. Nada pôde nem poderá abalar o meu amor imenso pelo Criador e suas criaturas.
Humildemente, afirmo que na simplicidade de crer, encontro esse jeitão feliz de tocar a vida. Que coisa!
Apesar do vou-lá-volto-cá na prosa intimista, não consigo arrancar os últimos fiapos do tal sonho que sonhei.Tampouco me livrar da ressaca intensa das emoções que senti.
...Eu pegava um trem, sozinha como sempre, e depois de instalada, via montanhas passando correndo, árvores indo atrás aos trancos, a chuva chorando na janela do vagão, e as minhas saudades acenando adeus em braços floridos, cujas espécies, os olhos acordados jamais tinham visto desabrochar em lugar algum.
Era tão nítido, que poderia catalogar uma a uma, aquelas lembranças de açucarar o coração.
Desperta e lúcida sinto no peito que uma delas, se recusa a voltar para a morada dos sonhos.
Como Deus meu, uma fantasia noturna vira uma realidade assim? É muito pra eu lidar com recursos tão amadores e humanos. Que explicação teria pra sentir tal saudade, se não me aparto de mim?
Quem não gostaria de vez e quando? Às vezes somos tão pesados para nós mesmos... Quem sabe é a imagem da criança que quer colo no coração? Será que ando negligenciando a menina que mora no meu peito ternurando minhas palavras? É não. Tenho tanto cuidado com a pequenina.
Precisaria pôr um pouco do frescor que deixei na juventude nos pensamentos maduros? Pode ser. Vivemos tão doutrinados palas pregações desse mundo.
Quero nem pensar que essa saudade é do tempo d’eu feliz com o homem que não esqueço. Dói demais essa saudade dos idos de tanta alegria. Com poesia. Decerto, tamanha saudade que cutuca e machuca, é pra eu pensar nesse prêmio de ainda ter o presente. Pra viver e desfrutar. Em paz comigo mesma, na sina que Deus me deu.Na solidão povoada com o que amo fazer, graças a Ele.
Misturar minhas palavras nessas saudades caprichosas.
Juro, não sei entender.
Busco a luz na Poesia!      

  

Poema de Vilma Cunha

 
Poema da Acadêmica Vilma Cunha
 
Foto da autora, antes de desfilar na  Sapucaí.
 
Desnudo-me de escondidas fantasias
Visto  minha alma co'essas de Momo
Pra fingir que não te amo no Carnaval
 
Toma desses desejos tão maltratados
Tantos sorrisos que não te pude sorrir
Leva os beijos derramando boca afora
 
Esquece o pranto da Colombina triste
Que te amava sozinha ó,volúvel Pierrô
Baila o adeus na marcha do meu amor
 
 
 
 
 

Carta ao Príncipe dos poetas

Palhaço - 2006 - óleo sobre tela - 40x50 - Deia Leal

Carta ao Príncipe dos poetas


Cesar Vanucci *


“... este soneto é uma rajada apocalyptica, um vôo de águia.”
(Guimarães Rosa, dirigindo-se a Honório Armond)

A carta, de próprio punho, endereçada por Guimarães Rosa ao amigo Honório Armond (considerado o “príncipe dos poetas mineiros”) vem datada, como já revelado, de 11 de janeiro de 1935. O texto reporta-se a dois poemas redigidos em francês. Ambos dedicados pelo vate barbacenense ao fraternal amigo.  O primeiro vem com introdução em latim. Rosa reproduz os sonetos feitos por Armond com o intuito de homenageá-lo e junta a eles comentários com toques bem humorados.
Roberto e Ângela Corrieri, amigos deste desajeitado escriba, forneceram-me cópia da carta. Transcrevo-a, adicionando  alguns esclarecimentos.
“Honório ingrato,
Seguem as formidáveis peças da poesia nacional: / Une Femme passa (Complainte). Tibi, carissime Johannes, / in memoriam fraternae / amicitiae, dicat, offert, / consccient certus memor / que amicus, Honorie (depois da dedicatória, em latim, vista acima, vem o poema em francês).

O soneto seguinte tem como título  “Mon âme a tou âme...”. Todo, também em francês. Guimarães Rosa capricha na caligrafia ao transcrevê-lo. Registra, após, as considerações abaixo, que obedecem à ortografia vigente na época.
“Nota do copiador: este soneto é simplesmente, admirável, “chef-d´ouvre”, é uma rajada apocalyptica, um vôo de águia.
Prompto! Estou fremindo de enthusiasmo,e nem comprehendo como foi possível que duas maravilhas dessas pudessem ter sido dedicadas a mim! Milagres da amizade!...
É escusado dizer que faço absoluta, terminante, feroz questão de que sejam publicados com as dedicatórias! Veja lá! Recomende expressamente aos seus amigos da revista! Quando muito, você poderá, si achar melhor, encurtar a dedicatória latina da “Complainte”, si a achar muito louca! Si forem sem dedicatória, irei ahi para desafial-o em duelo!...
Outra coisa: faço questão de receber o número da revista que os publicar! Olhe que isso é um assumpto muito sério...essas poesias são minhas! Não escrevo carta, porque e ainda estou esperando resposta da minha!...
Recomendações à exma. sra. Abraços para Zezé e Beatriz. Um apertado abraço de seu Guimarães Rosa.”
E já que continuamos a adentrar o território das criações literárias fascinantes palmilhado por este mestre das letras chamado Honório Armond, que tal nos deleitarmos, outra vez ainda, com mais versos de sua lavra constantes das “Obras Poéticas”, edição lançada ao ensejo do centenário de seu nascimento?

Esses aqui, por exemplo:
“Quid est veritas? (1)
À sala do Pretório, onde Pilatos, / delegado de Roma, judicava, / trouxeram Jesus Christo a rudes tratos / qual si elle fôra uma alimária brava. / “Quem es tu?” – “Rei dos Reis” – e eis que ullulava / a infame turba insciente dos ingratos... / -“Galileu, que fizeste?” – “O Bem!” – Responde / “esta pergunta que te faço e que há de / ser por ti desnevoada de seu véo...” / “Jesus de Nazareth, sabes tu onde / vive e fulge, immortal e alma, a Verdade?” / ... Jesus, porém calou-se, olhando o céo...”

E mais estes:
“Jesus, antem, tacebat (II)
Jesus calou-se... E olhando o céo broslado, / escampo, azul, sereno, alto, infinito, / poz-se a pensar, talves, no seu passado... / na sua fuga para o adusto Egypto... / - Que responder? E o Grande Illuminado, / perdido no seu sonho, áureo e bendito, / viu que a Verdade é um verbo indecifrado! / ... si elle também morria por um mytho... / Verdade! Verbo vago e multifário! / Empós teu gesto os seculos  se somem / destas ânsias e luctas através! / que eu lembrando o Pretorio e o arduo Calvario / vejo que pode neste mundo um homem / morrer, por Ti, sem penetrar o que és...”

Honório Armond - dá pra perceber pelos descoloridos registros que, à falta de maior engenho, andei conseguindo transportar para este espaço, de seu incomensurável e coruscante talento -  foi um poeta magnífico. Dos mais importantes de nossa crônica literária. Firmou um estilo. A linguagem armondiana, de beleza irretocável. Vemo-la estampada em versos como estes aqui (poema “Ventura de esperar”), com certo toque de presságio, que asseguram a permanência de sua arte na memória literária: “Depois da morte, eu sei! Serás, ó meu espírito uma chama, um clarão ideal – num mundo olímpico – o Sol eterno para nunca anoitecer!” Um clarão ideal! Haverá palavra melhor para descrever a trajetória deste poeta?

* Jornalista (cantonius@click21.com.br)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dois sonetos do Acadêmico Daniel Antunes Júnior


Série - Traços Coloridos Aldravistas - Flores - Deia Leal

Dois sonetos da "Lira libertada" - Acadêmico Daniel Antunes Júnior

A mulher e a flor

A mulher, com todo o seu esplendor,
Cheia de vida, atraente e amorável,
Espelhando o encanto de uma flor
Na sua tessitura incomparável,

Atrai e leva o homem à sua jaça
E o cativa, poderosa e tentadora,
Com os embalos de sua graça.
Mas, para ser sempre sedutora

Pois tudo é bom enquanto dura,
Terá que renovar-se no seu fulgor
A cada dia, assim como quem procura

O elixir da juventude e do eterno amor.
Se não o fizer, - Oh, que  loucura!
Decerto fenecerá como a própria flor...


O milagre do meu sertão

Quando, em meu sertão, de dentro da terra
Sobe o ar abafado, quente e trepidante
E tão logo das quebradas da serra
Ribomba nostálgico o trovão distante,

Nuvens carregadas cobrem o céu profundo
E com a ansiada virada do tempo
Banham o solo adusto, mas fecundo
Trazendo à paisagem festejado alento.

É o milagre perene,  sempiterno,
Que transforma da noite para o dia
Toda natureza do meu sertão fraterno.

Nessa fonte de vida, com euforia
O grande espetáculo, franco e terno
Transborda os corações de paz e alegria




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

FALEMG

Visitem o blog da FALEMG (Federação das Academias de Letras e Cultura de Minas Gerais)
O Presidente e Membro da Academia Mineira de Letras- Aloísio T. Garcia - publicou as primeiras Aldravias:
Conheçam também os Membros da FALEMG.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um poeta extraordinário



Tela de Djanira - RJ

Um poeta extraordinário

Cesar Vanucci *

“Ficou comigo a saudade /
que é o sol dos tristes, a estrela das tardes de cinza e jade.”
(Honório Armond, “príncipe dos poetas mineiros”)

Amigos diletos os responsáveis pelos momentos de fruição intelectual genuína e arrebatadora vividos num fim de semana. Roberto Henrique Corrieri, engenheiro renomado, companheiro de terapêuticas andanças matinais, e esposa Ângela, ela neta do poeta, brindaram-me com uma coletânea da magistral obra literária de alguém nada mais nada menos que Honório Armond. Poeta nascido em 1891 e falecido em 1958, considerado o “Príncipe dos poetas mineiros”.

Em cada página percorrida tem-se um primoroso exercício de fluidez sonora, com tinturas ricas e imagens empolgantes. O conjunto dos poemas faz dessas “Obras poéticas”, livro lançado em 1991, ao ensejo da celebração do centenário de Honório, uma perfeita e acabada obra prima. Não incorrem, seguramente, em exagero os especialistas em versos “armondianos”, quando entendem apontar no poeta barbacenense um discípulo autêntico de Bandelaire. Já não fosse suficiente sua reconhecida e confessa sintonia no plano das idéias com Valery, Mallarmé, Verlaine e Rimbaud. Não causa surpresa alguma igualmente seja comparado por muita gente do ramo, nas latitudes poéticas brasileiras, a Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens. Ou que haja arrancado entusiásticos louvores, vida afora, nas avaliações do conteúdo de sua refinada arte, de escritores, poetas, críticos literários do porte de Agripino Grieco, Tristão de Ataíde, Abgar Renault, Pedro Nava, Belmiro Braga, Humberto de Campos, Carlos Dummond de Andrade e João de Guimarães Rosa. Os dois últimos, seus colegas fraternais.

Artista consumado do verso, reunindo precioso acervo de peças elaboradas no mais requintado lavor, Honório Armond, integrante da Academia Mineira de Letras, ombreia-se, sem qualquer sombra de dúvida, com os maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Domina exemplarmente a palavra. Seus poemas projetam pujante sopro humanístico. Se, por um lado, denunciam a inquietude intelectual de um homem na cata de respostas diante das inesgotáveis interrogações da aventura humana, por outro revelam que o autor, ancorado na esperança que move montanhas e representa um impulso heróico da alma, mostra-se disposto, o tempo todo, a celebrar a beleza, a procurar infatigavelmente ideais serenos que conduzam à Paz e ao Amor.

O caudal da poesia “armondiana” é carregado de erudição e saborosos achados líricos. Revela autor na força plena de seu potencial criativo. Parece ajustar-se com precisão ao seu perfil uma definição que Shakespeare faz dos poetas em “Sonho de uma noite de verão”, quando registra “que o olhar do poeta, girando em delírio, / vai do Céu para a Terra, da Terra para o Céu; / e no que a imaginação vai tomando corpo, / sua pena cativa a essência das coisas desconhecidas (...)”

Vejam se não essa exatamente a sensação que passam esses admiráveis versos iniciais do poema “In princípio... erat apud Deum...”;
“Quando a primeira célula vibrava / por entre a salsa espumarada, escrava / das correntes, das ondas, da maré; / olhando a rude vida embrionária / bradei: - ó vida, és minha! Homem, ó pária! / Sum qui sum... eu já sou pois quem alguém é!”


Ou neste “Credo de um monista”:
“Creio na vida universal que emana / do protoplasma de onde o Ser deriva... / Creio na eterna essência, informe e esquiva. / que o fungus fez e fez a Espécie Humana... / Creio na Evolução... dela dimana / o Homo-Sapiens, da ameba primitiva... / e creio que o que morre hoje, reviva / para outra luta mais tenaz e insana!... / Creio em Ti, causa prima: Deus... acaso / Inconsciência das coisas, que nos levas / do Nada para a luz onde fulguras... / e creio que, em chegado o meu ocaso, / eu sobreviverei à morte e às trevas / para outras vidas e outras desventuras...”

Reservo para comentário vindouro, em complementação ao que é dito hoje acerca do grande vate, uma inédita manifestação sobre sua opulenta obra. Trata-se de uma carta de Guimarães Rosa datada de 19 de janeiro de 1935.


Mensagens





MENSAGENS
Vilma Cunha Duarte


Corajosa, liberto-me do domicílio no planeta multimídia. Desligo comandos, que devagar e ardilosamente, reconectam-me com a simplicidade de viver.

Quero jejum e abstinência da informação que sufoca, oprime o peito e espalha a angústia coletiva. Preciso de uma trégua dos lugares comuns das tragédias sadicamente recontadas. Urge purificar-me dos vírus perigosos da comunicação, mergulhando fundo na transparência dos meus sentimentos.

Desnudo-me da roupagem pesada da robotização dos pensamentos, palavras , obras e aqueço-me no manto aconchegante da Poesia.

Santificada pelo milagre da entrega absoluta, ouço as vozes do vento, beijo a boca da noite, deixo-me rolar entre as nuvens no folguedo descuidado com as estrelas, e me dou de alma inteira para o luar. Permito-lhe brincar em mim no vaivém ondulante da chuva de prata, para serenar-me as emoções.

Subjugada pelo magnetismo do cenário-natureza, inebrio-me com  tons de vozes aveludadas e sedutoras com o poder de encantar. De onde viriam e qual mensagem trariam com aquele jeito insinuante de sussurrar?
Gente, não era. Suavidade assim, é surreal.
A noite já vai bem passada. Quem sabe... olhar para o céu... abrir os ouvidos e...



Ei! Desliga as tomadas do mundo e ouve o recado só teu.
Hoje és uma estrela. De um lado teu, a estelar Poesia, no outro o teu amor cá do céu. Três a brilhar a lindeza das faceiras.


Sobe o teu olhar para o alto. Descobrirás a singeleza dos etéreos, a harmonia das cores, a casa de tintas do arco-íris, as esculturas das nuvens, a cama do sol, os olhos de vigília da noite, que guarda segredos a sete chaves.


És daqueles que amam os que têm asas. Vivos ou Encantados, na química suave dos sensíveis. Podes perdoar os resmungos do mar exaltado, molhar os olhos com o balé das ondas em sincronia, arrepiar-se de prazer com a brisa a te tocar, alcançando o estado de graça em comunhão com a natureza.


Tens ouvidos de escutar a sinfonia dos anjos tiradas das suas harpas divinais e imaginação para compor com as tuas notas , a tua canção de ninar a felicidade. Guardas no teu baú de preciosidades o crepúsculo incendiado da despedida do sol, os bocejos preguiçosos das manhãs beijadas de orvalho e a pureza de noivas nas águas que despencam a cantar.


Quanta generosidade. Pobre de mim. Eram mimos das três estrelas de Sírius afagando-me as carências, piscando com jeito de NOITE FELIZ em pleno fevereiro começado, como enfeite precioso todo dia,  para o presépio-coração.


" Ora direis ouvir estrelas........."