segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CONCURSO DA UBE-RJ



UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES (UBE/RJ)

20021-350 Rua Teixeira de Freitas, 5 s/303 – Centro. Rio de Janeiro, RJ – Brasil.

Fundada em 27 de agosto de 1958.


 
R E G U L A M E N T O
I - DOS PRÊMIOS
Art. 1.° - Ainda com a ressonância do JUBILEU DE OURO recém-comemorado (1958/2008), a União Brasileira de Escritores (UBE-RJ) concederá, no próximo ano, os seguintes prêmios literários para livros inéditos (não antologias) em 2011:
Contos – PRÊMIO PEREGRINO JÚNIOR;
Crônicas - PRÊMIO ALEJANDRO CABASSA;
Ensaio – PRÊMIO ANTONIO HOUAISS;
Literatura Infantil e Juvenil – PRÊMIO GANYMÉDES JOSÉ;
Poesia – PRÊMIO JORGE DE LIMA;
Romance - PRÊMIO OCTAVIO MELLO ALVARENGA
Teatro – PRÊMIO DIAS GOMES. inédito de contos, será concedida também a MEDALHA HARRY LAUS, apenas para o primeiro colocado. Art. 2°
II - DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS CONCORRENTES
- A critério das Comissões Julgadoras poderão ser concedidas às obras concor-rentes a qualquer dos prêmios uma menção especial e uma menção honrosa, exceto a Medalha Harry Laus que terá somente um ganhador.
Art. 3°
§ 1° - Para cada conjunto de livros o autor deverá anexar envelope lacrado conten-do: pseudônimo, título da obra, nome e endereço completo do autor, telefone, e-mail (se houver) e sucinto
§ 2° - Não haverá devolução dos ORIGINAIS de livros concorrentes.
III - DAS INSCRIÇÕES E DOS PRAZOS
- Poderão concorrer autores de quaisquer nacionalidades, desde que se expres-sem em língua portuguesa. Os originais de tais obras deverão ser digitados e vir enca-dernados (espiral ou outra modalidade) e enviados, sob pseudônimo, em três exemplares e curriculum vitae.
Art. 4° - Não há limitação quanto ao número de livros por autor, observadas as disposi-ções do Art. 3.° e seus parágrafos.
Site: http://www.uberj.org.br/

Art. 5° - As inscrições das obras deverão ser feitas de 10 de janeiro a 15 de maio de 2011, considerando-se, no caso de remessa pelo correio, a respectiva data da postagem. Art. 6° - Os livros concorrentes a prêmios devem ser remetidos, em separado por ca-tegoria, para o seguinte endereço: Rua Teixeira de Freitas, 5, Sala 303 - Lapa, CEP 20021-350 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Solicita-se colocar no envelope ou embalagem o nome do prêmio a que se destina(m) a(s) obra(s).
Art. 7°
IV - DAS COMISSÕES JULGADORAS E ACEITAÇÃO DOS CONCORRENTES
- Cada prêmio poderá ser concedido apenas uma vez ao mesmo autor, vedada a concessão aos membros da Diretoria da UBE-RJ.

Art. 8° - As comissões julgadoras serão constituídas, cada uma, por três escritores indi-cados pela Diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE-RJ), sendo irrecorríveis as decisões desses Colegiados.
Art. 9° - A participação no concurso implica a aceitação, por parte do concorrente, de todas as exigências regulamentares, resultando em desclassificação o não-cumprimento de quaisquer destas.
Art. 10° - O resultado do concurso será tornado público até 90 (noventa) dias após o encerramento das inscrições. A entrega dos prêmios será em data e local previamente anunciados.
Art. 11 - Qualquer informação será por mensagem eletrônica ou através de carta, desde que os interessados enviem envelope selado para resposta. Parágrafo único - Correspondência para o Secretário da UBE Luiz Gondim: E-mail – luiggondim@gmail.com ou Rua Sá Ferreira, 152/403 – Copacabana - CEP 22071-100 - Rio de Janeiro, RJ.
Art. 12
Rio de Janeiro - RJ, 22 de outubro de 2010.
EDIR MEIRELLES
- Os casos omissos no presente Regulamento serão resolvidos pela Diretoria da UBE-RJ. Presidente da UBE-RJ AGRADECEMOS A DIVULGAÇÃO

O Cronista de Minas

 
 
Andreia Donadon e Manoel Hygino

O CRONISTA DE MINAS
Andreia Donadon Leal *
O cronista do Jornal Hoje em Dia, Manoel Hygino dos Santos, recebeu no dia 28 de janeiro de 2011, a Medalha Grau Ouro e o Certificado “Cronista do ano do Estado de Minas Gerais”, pelo Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais de Minas Gerais, com sede brasileira no Rio de Janeiro e Chancelaria Internacional na Ilha da Madeira – Portugal.
Hygino é um dos cronistas mais sensíveis às causas culturais do Estado de Minas Gerais. Nascido em Montes Claros, Minas Gerais, terra natal de Darcy Ribeiro, Arhur Lobo e João Valle Maurício, vive atualmente em Belo Horizonte. O escritor cursou Bacharelato pelo Ministério da Educação do Uruguai, em 1953; Anatomia, Citologia, Histologia, Faculdade de Medicina de Montevidéu, 1953. Exerce a profissão de jornalista no Hoje em Dia – Belo Horizonte, Ouvidor e editor do Jornal Santa Casa Notícias. Pertence a importantes associações como o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Associação Mineira de Imprensa, Academia Montes-Clarense de Letras, Academia de Letras de Salinas, Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Academia Mineira de Letras, Sócio Honorário da Academia Municipalista de Minas Gerais, dentre outras.
Tem publicado, entre outros, os seguintes livros: Vozes da Terra, contos e crônicas, ed. do autor, 1948; Considerações sobre Hamlet, ensaio histórico-literário, ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1965; Raspútin, último ato da tragédia Românov, ensaio, ed. Júpiter, 1970; Governo e Comunicação, monografia, ed. Imprensa Oficial, 1971; Hippies, Protesto ou Modismo, ed. Júpiter, 1978; Antologia da Academia Montes-clarense de Letras, ed. Comunicação, 1978, coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira; Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana, ensaio, ed. Júpiter, 1979; No Rastro da Subversã, ensaio, ed. Faria, 1991;  Darcy Ribeiro, o ateu, biografia, ed. Fumarc, 1999; Notícias Via Postal, correspondência, 2002; Tu és Pedro Nava- Um crime que ficou sem castigo, ensaio, gráfica O Lutador, 2004; Santa Casa de Belo Horizonte - Uma História de amor à Vida, edição Conceito comunicação e Cemig, 2005.
O mestre das letras e da cultura mineira em 2010 lançou inquietante obra: Jesus – Causa Mortis, que recria a figura do Filho de Deus, numa linguagem contemporânea, escorreita, suave e de fácil compreensão.
Manoel Hygino já prefaciava livros desde o ano de 1950, quando era diretor da Editora Revista Esfinge em Montes Claros. E continua, prefaciando autores consagrados, autores emergentes; das terras mais longínquas de Minas e do Brasil, dando voz, vida e louvores à produção cultural em suas diversas dimensões temporais e espaciais. O cronista de Minas redige cantando e contando em suas crônicas diárias, estampadas na página do Jornal Hoje em Dia, com limpidez, elegância e argúcia a atualidade política, social e cultural. É também conhecedor insuperável da alma humana. A crônica vive um momento de plenitude com Manoel Hygino.


Formada em Letras pela UFOP – Mestranda em Literatura, cultura e Sociedade pela Universidade Federal de Viçosa.
 
Texto publicado no Jornal Hoje em Dia - 29 de janeiro de 2011. ARTIGO

Relembrando Murilo Badaró - César Vanucci



Relembrando Murilo Badaró
Cesar Vanucci *
Seu estilo apurado em requintada prosa valoriza
ainda mais a defesa (...) de idéias e valores tão caros
à nossa província de Minas Gerais.”
(André Carvalho, jornalista, falando da obra de Murilo Badaró)

De Montaigne vem a lírica sugestão para que nos acostumemos a dizer, ao invés de que alguém morreu, que ele apenas e simplesmente “cessou de viver”. Perífrase bolada, certamente, com o intuito de sublinhar o valor da vida, o significado transcendental da jornada humana. E para confirmar o que Camões disse: as pessoas não morrem, partem primeiro.
Murilo Badaró “cessou de viver” num momento fecundo de sua peregrinação pela pátria terrena. Cumpriu, galhardamente, a missão que o destino lhe outorgou, atuando como testemunha ocular, protagonista e documentarista de episódios expressivos da história política de nosso tempo. De alguns desses episódios poder-se-á, com adequação, reconhecer que, mais do que expressivos, revelaram-se culminantes na vida nacional.
Na tribuna parlamentar ocupada pelo seu verbo ardente, ou na pena erudita, por onde passou, em livros e artigos, o entusiasmo arrebatante de arraigadas crenças republicanas e pujança de idéias, esse talentoso patrício viveu papel realçante no palco dos acontecimentos culturais e políticos. Ofereceu-nos, o tempo todo, aos que o admiravam à distância e à legião incontável de amigos, lições de fé e de constancia na democracia. Pregou fervorosamente o culto austero aos princípios éticos, indissociáveis da conduta do homem público movido pelo ideal do serviço desinteressado.
Colocou à mostra, num sem número de importantes funções, todos esses apreciáveis dons. Deixou marcas de operosidade impressas na Assembléia Legislativa, Câmara e Senado federais, Ministérios, organizações governamentais e Academia Mineira de Letras. Levou pra casa, de cada cargo exercido, opulenta bagagem de serviços. Constituíam atributos seus a energia criadora, a lucidez, e a robustez de convicções que compõem o perfil de uma pessoa realmente comprometida com os misteres da liderança.
Sua aventura intelectual entrelaçou-se com a ação política. Isso frutificou nalguns documentários magistrais de nossa história, representados por sequência de estudos biográficos que pode ser tomada como contribuição preciosa para a compreensão de aspectos fundamentais da formação política nacional. Figura respeitada como prosador. Os círculos intelectuais mais qualificados tinham-no na conta de um esteta da palavra. Competente pesquisador, compôs textos que projetam benfazeja influência clássica em sua orientação literária. Tal coisa fica evidenciada na leitura de seus livros, entre eles, “José Maria Alkimim – uma biografia”, “Milton Campos, o pensador liberal”, “Gustavo Capanema, a revolução na cultura”, “Floresta de símbolos”, coletânea de artigos com enfoque em temas políticos, personagens famosos e situações do cotidiano. Na obra “Bilac Pinto, o homem que salvou a República”, de lançamento recente, retrata-se a trajetória reluzente de um dos vultos exponenciais da vida nacional. O autor bota na envolvente narrativa sincera emoção e arrebatamento afetivo, bem típicos de sua personalidade, que ajudam a explicar aquilo que, para alguns, soa como pitada de exagero: a afirmação peremptória do título referente ao papel, sem dúvida destacado, desempenhado pelo ilustre biografado em nossa história republicana.
Os leitores dos artigos de Murilo podiam, por vezes, discordar de um que outro conceito ou apreciação expendidos sobre pessoas e fatos, mas manifestavam-se inteiriçamente concordes em relação a um ponto primordial em sua singular capacidade de criação literária: o domínio que detinha do texto, bem elaborado, elegante, de qualidade excepcional.
No livro “Floresta de símbolos”, reportando-se a uma crônica de 1862 de Machado de Assis, Murilo comenta as reações dos leitores, que tanto podem ser de concordância quanto de divergência, no tocante às idéias dos autores. Diz haver se esforçado por seguir os “prudentes ensinamentos” machadianos, comentando os fatos com reserva, louvando ou censurando, como ditado pela consciência, “sem cair na exageração dos extremos”. Arremata: “foi o que sempre tentei fazer. Espero tê-lo conseguido.”
* Jornalista (cantonius@click21.com.br

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Aldravia - nova forma, nova poesia



Frutos em decomposição - acrílica sobre papel cartão - 40x50- 2010 - Deia Leal

Aldravia – nova forma, nova poesia

J. B. Donadon-Leal - Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais *

A arte da poesia, desde a antiguidade, já experimentou muitas formas. Sempre ela esteve certificada pela grandeza com que a arte encanta olhos e ouvidos. Ela consagrou nomes e eternizou formas, além de ter revelado muitas faces ocultas das paixões pela vida. Não é à toa que a poesia é tida por muitos como a mais nobre entre todas as artes.

Das narrativas longas da antiguidade, passando pela condensação dos sonetos do advento da era moderna ou pela síntese do haicai do oriente do Séc. XXVII, a poesia experimentou extremos: muitas palavras para muitos conteúdos ou muitos conteúdos em poucas palavras. De qualquer forma, a poesia presta-se para a incubação de novidades à linguagem e, ao mesmo tempo, para o culto às memoráveis celebrações ao passado.

Em novembro do ano de 2000, com o lançamento do Jornal Aldrava Cultural, os poetas aldravistas, empreendedores do movimento que nascia em Mariana, Minas Gerais, a partir daí, consignaram um propósito de em 10 anos apresentarem à sociedade um projeto cultural que apontasse caminhos para a celebração das coisas e dos sujeitos produtores das artes.

O primeiro legado dos aldravistas foi a ideia de organização do mundo artístico, seja para produzi-lo, seja para compreendê-lo, a partir do conceito de metonímia: porções constitutivas das coisas podem representá-las, muito bem, no mundo das significações. Essa percepção abre espaço para o enfrentamento à concepção prepotente das metáforas que trazem consigo arroubos de substituições totalitárias Ao mesmo tempo, a poesia metonímica busca demonstrar que a poeticidade pode estar na simplicidade. A leitura da poesia não pode ser uma tortura em busca de significações. Sentidos têm que saltar da forma poética com a facilidade com que se captam os significados na fala cotidiana. Tortura não combina com poesia. A única dor tolerável na poesia é a do prazer.

Sabendo ser parte de um todo que se diz nessa parte, para que se querer todo sempre que alguma parcela desse todo se faz necessária na construção de algum projeto temático? Cada parte de um todo se joga num conjunto discreto que se deixa escolher em cada investida produtiva de significação. Esse é o espírito da enciclopédia, que se revelou integralmente no complexo mundo wiki, hipertextual e em cadeia com escolhas e escolhas de novas metonímias que se alimentam dessas escolhas.

O que o espírito wiki realiza é exatamente o que o espírito da poesia já revela há milênios: o mínimo de palavras para a abertura do máximo de possibilidades significativas, plagiando Pound em sua reflexão sobre a arte da poesia.

Ao lado disso, a partir de reflexões sobre os destinos da poesia, os aldravistas liderados por Gabriel Bicalho buscaram observar a poesia que enceta para a síntese nos poemas curtos, nas trovas, nos haicais. Essa característica de observador da síntese vai ao encontro da hipótese poundiana de poesia. Mas, seriam, de fato, essas formas poéticas as mais sintéticas? Representariam elas, de fato, as metonímias perseguidas pelos aldravistas?

A ideia de flash, de fotografia ou de uma porção de algo parece contemplada nessas formas poéticas. Elas demonstram também outro aspecto do aldravismo – a livre escolha de formas de poesia.

Aí outro aspecto do espírito do poeta evidencia-se: a inquietação. Essa inquietação faz do poeta um ser que está sempre em busca de algo a mais, do ponto extra, da falta, do que ainda não foi visto. Mais uma vez os aldravistas se valem do legado de Pound em seus ensaios literários de 1934, para concretizarem o paideuma: “a organização do pensamento de modo que o próximo homem ou geração possa achar, o mais rapidamente possível, a parte viva dele e gastar o mínimo de tempo com questões obsoletas”.

Que novidade os aldravistas poderiam deixar para as gerações futuras? Além da vasta produção já obtida nesses dez anos de estrada, além da promoção de talentos e de investimento na criatividade infantil, os poetas aldravistas poderiam apresentar uma nova forma poética. Não fazia parte do empreendimento inicial, pois é possível brincar com a liberdade utilizando-se das formas poéticas consagradas. O grande investimento aldravista é no conteúdo metonímico – pouco importa a forma. A forma é apenas textual, é apenas envelope dentro do qual os discursos se depositam em sua fecundidade ilimitada, disponíveis aos olhares de espectadores que alcançam alguma porção discursiva a partir da qual expande sua compreensão e interpretação.

Mas, que tal uma nova forma. Eis que do permanente congresso do movimento aldravista de artes, do qual participam ativamente Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, eu e J. S. Ferreira, surgiu uma nova forma de poesia: a aldravia, nome sugerido por Andreia Donadon Leal a uma forma elaborada por Gabriel Bicalho, com base na concepção de encontro com os sentidos na possibilidade real de se ter o máximo de poesia no mínimo de palavras.

Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”, como a trova, o haicai, o soneto.

Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.

Esta edição do Jornal Aldrava Cultural apresenta ao público a aldravia:

Andreia Donadon Leal:

salto

de

cova

nascimento

do

artista

~~~~~~~~~~

Gabriel Bicalho:

não

fazer

poesia

de

alma

vazia

~~~~~~~~~~

J. B. Donadon-Leal:

minhas

porções

diárias

metonímias

de

mim

~~~~~~~~~~

J S Ferreira:

sigo

cigano

em

busca

da

poesia



O movimento aldravista de arte chega maduro aos seus dez anos de existência, pronto para apresentar nova forma poética ao conteúdo metonímico já experimentado nas formas canônicas de versejar. Poesia tem que ter poeticidade na simplicidade, conteúdo na síntese e porta aberta às interpretações.

Poesia é germinação, por isso não precisa pretender-se à completude em longas narrativas, pois

curta

poesia

do

verbo

pólen

via




- Acesse o link e veja as primeiras ALDRAVIAS criadas por outros escritores, publicadas no site do Jornal Aldrava Cultural:






* Escritor, jornalista. Doutor em Semiótica pela USP - Pós-doutor em Análise do Discurso pela UFMG. Professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SALA DE VISITA



Museu Dona Beja. Araxá. Minas Gerais

Sala de Visita
Vilma  Cunha Duarte
Ser mineiro é literal, literária e emocionalmente, um estado característico. Bem disse Pedro Rogério Moreira, o ousado biógrafo da vida amorosa da JK, em “Bela noite para voar”, que  sacudiu os brios da TFM. (Tradicional Família Mineira): “A cultura montanhesa não gosta de abrir a porta íntima da casa a visitantes. A alcova só pertence aos donos, já anotava o viajante francês Saint-Hilaire, no séc. XIX, ao percorrer os caminhos de Minas e observar a formação da família mineira. O mineiro recebe com generosidade, na sala de visitas. Para além desse aposento, é o cortinado, a sombra, quando não a escuridão total, portas e janelas fechadas. O resto é silêncio”.
Mineiro não chega a ser um fingidor como celebrizou o poeta, mas  dissimula com humor e propriedade. 
Não mente, deixa de contar as coisas. Finge de morto se precisar. Deita e rola... calado! Quando aparece um muito espevitado por aí, passou uns tempos fora de casa ou negou a raça.
"Esconde o leite" como a tetuda pirracenta. Duvida? Então, corra as listas dos sequestrados. Pouquíssimos amargam cativeiro por alardear glória e fortuna.
Mesmo com a conta polpuda no banco, fazendinhas de dobrar o horizonte, lavouras de café, rebanho leiteiro do bom, chora  dificuldades. É cultural.
Não gosta de imposto, tampouco de fiscal. Sequelas da Inconfidência Mineira. Mas paga o que é preciso na maior lisura. Honestidade aqui, não virou qualificativo.  É virtude e obrigação.
Leva fama de pão-duro.  Exagero da ironia nacional, que caricatura cada estado à sua moda. Prefere ser rotulado como cuidadoso no trato com o dinheiro suado pra ganhar, seu refrão em toda conversa.
Desconfiado... Tem um pé atrás, mesmo com a própria sombra, e para se abrir de vez, só em último caso, deitado no divã, fazendo a conta da careza da sessão.
Não gosta de entrar em briga mas, se lhe pisam os calos dá uma boiada pra não sair? Verdade verdadeira.
Economiza? Claro! Não é a receita certa dos balanços de saldos equilibrados? Até nos “esses” dos plurais que ele estoca, a fim de gastá-los nos diálogos mais pomposos. O que lhe suaviza a prosa coloquial, sossegada e cantante, música para ouvidos simpatizantes.
Contudo, se o assunto é hospitalidade, e ainda com cultura, deixe com a mineirada, que traz no sangue e na tradição o gosto de receber.  
Hospedamos com rendas, flores, porcelana e prataria  para exibir a nossa culinária espetacular. Minas ama pôr a mesa com as nossas delícias Gerais.  Huuummm! Frango caipira com quiabo, lombo assado, torresmo com mandioca, tutu com couve, doce de tudo quanto há. Como diz um amigo carioca: Mineiro gosta de praia sim, depois do pão de queijo.
Viver de bem com a vida, estar de lua de mel com a arte em todas as suas manifestações, coisa de mineiro sim, "sinhô"!
Que me perdoem os donos dos pincéis mágicos, os que tiram os seus tesouros criativos da matéria bruta, os tocadores e compositores das notas divinas, e todos os artistas deste mundo. Curvo-me diante  do belo, mas quando me toca falar dos artesãos das palavras, as emoções entornam-se coração, olhos e boca abaixo.
Minas tem Guimarães Rosa, Drummond, Adélia Prado, Henriqueta Lisboa, Alphonsus de Guimarães,  Oto Lara Resende, Rubem Fonseca... só começando a lista "compriiiiiiiida" da mineirada famosa na arte de Literatura.
Se a gente é mineira e ainda por cima escreve, o coração, maior que nossas montanhas protetoras, estende a toalha bordada, põe a mesa do carinho, enfeitada com flores perfumadas de amizade, e serve a hospitalidade com o tempero da nossa cultura. 
Sinta-se convidado e em casa.
Nossa sala de visitas tem a medida certa da notória graça araxaense pra te botar pra dentro, e te trancar no coração.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Edição Especial ALDRAVIAS


Edição Especial do Jornal Aldrava Cultural

Aldravia

O que é Aldravia?

Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideais correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demostra uma via de saída para a poesia - ALDRAVIA. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.
Prof. Dr.J.B.Donadon-Leal - Acadêmico da AMULMIG

* Jornal Aldrava Cultural
  
Versão digitalizada do Jornal impresso
 
VERSÃO EM PDF:
Acesse o link para ler o Jornal Aldrava Cultural:
 
 
* Blog do Vanucci
 
Semana de 21 a 28 de janeiro de 2011 – Nº 3
 
Águas de janeiro
Asia Bibi, uma paquistanesa
Por falar em “feedback” e “brunch”
 
 

 * Novo site da Transamérica Hits FM 92,5
http://www.transamerica92fm.com.br/scripts/inicio.php

 

Quintana por Quintana


Carreiro - Camilo Leal - acrílica sobre tela

Quintana por Quintana
Cesar Vanucci *
A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.”
(Mário Quintana, poeta)
Cai-me às mãos, trazido em meio as torrentes de informações despejadas pela internet, um texto delicioso do grande Mário Quintana. Intitulado “Mário Quintana por Mário Quintana”, ele foi escrito pelo poeta para a revista “IstoÉ” e publicado na edição de 14.11.1984.
Vale a pena transcrevê-lo. Quintana toma da palavra com aquele jeito indômito e, ao mesmo tempo, meigo, todo seu, onde a beleza da linguagem se entrelaça admiravelmente com lampejos da verdade cotidiana. Na seqüência, alguns esplêndidos achados poéticos de seu criativo repertório são adicionados à matéria.
Assim falou Quintana:
“Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas...Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura : 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton ! Excusez du peu. Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura.”E, agora, vêm alguns ditos inesquecíveis desse grande arauto da lírica brasileira:
·         Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
       
·         Não importa saber se a gente acredita em Deus: o importante é saber se Deus acredita na gente...

·         O despertador é um acidente de tráfego de sono...

·         O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

·         Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu passarinho!

·          Esta vida e uma estranha hospedaria De onde se parte quase sempre às tontas. Pois nunca as nossas malas estão prontas, E a nossa conta nunca está em dia.

·          Não te abras com teu amigo. Que ele um outro amigo tem.E o amigo do teu amigo Possui amigos também...

·         O tempo é a insônia da eternidade.

·          A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.

·         O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.

·         Bilhete: Se tu me amas, Ama-me baixinho.Não o grites de cima dos telhados, Deixa em paz os passarinhos. / Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, Tem de ser bem devagarinho, Amada, / Que a vida é breve, E o amor / Mais breve ainda.

·         Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: O excesso de gente impede de ver as pessoas...

·         Dupla delicia. O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo temo acompanhado.

·         Geografia. O mais sugestivo é que esses países afro-asiáticos sempre nos parecem afrodisíacos.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Edital Abertura Processo - Ingresso de Membros Efetivos na ALB-MARIANA


EDITAL DE ABERTURA DE PROCESSO DE INGRESSO DE MEMBROS EFETIVOS NA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL-MARIANA

Para maiores informações visitem o blog da ALB-MARIANA

http://academialetrasbrasilmariana.blogspot.com/

 

Publicações
-  Edital n° 001-2010 - Abertura de processo de Ingresso de Membros Efetivos na ALB-Mariana
- Modificações e Adendo do Regimento Interno da ALB-MARIANA do Regimento Interno da ALB-MARIANA

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Janeirando com poesia nas "Nossas Gerais"

Imagem enviada pela Acadêmica Vilma Cunha Duarte - Sem legenda


Janeirando com poesia nas "Nossas Gerais"                 Vilma Cunha Duarte

A vida da gente parece um seriado com episódios inéditos e imprevisíveis. Sem direito a vale a pena ver de novo.
Se pudéssemos ter o roteiro nas mãos, pularíamos certamente, aqueles capítulos de sofrer... chorar... cair... quebrar a cara ... machucar o coração...
Inda mais coração de poeta e mineiro ainda por cima.
E a experiência? Conquistá-la  como? Fica difícil crescer sem os tombos do dia a  dia.
Começo de ano, (janeiro já se vai desembestado),  é tempo de prometer um montão de coisas,  priorizar metas, estabelecer objetivos, mexer nos armários, enfrentar gavetas, ter ou não ter coragem de jogar fora um pouco da história pessoal.
Revirando o desarrumo  da papelada, que cresce fora do controle da atenção, embrulhando lembranças com fitas cor-de-rosa, esbarrando na cara da juventude que ficou plasmada no retratinho preto e branco, relendo textos tão diferentes,  deixo o dia acabar mansinho e molhado, de encomenda para o coração.
Aquele que todo mundo conhece, cita  ou  reescreve: - de    viver novamente a própria vida - apesar de velho e reprisado ainda consegue  me tirar as emoções do lugar.
E se nos empenhássemos em viver ousando muito mais no tempo que ainda temos? Ir com a cara  e a coragem para  descobrir um jeito de ser muito mais feliz.
Não bisar as mesmas trapalhadas nos desamores, já  seria um progresso e tanto. A área anda tão complicada, que quando se descobrir que a fantasia da busca,  vezes sem conta é muito  mais interessante que a realidade sem retoque,  corações ansiosos vão serenar.
Passo os olhos nos livros de tanto tempo, mas sei que o final feliz continua lá.  Pra gente que não  mora naquelas páginas encantadas, é muito complicado. No script de todos nós não vem o último capítulo de  dar tudo certo, tampouco os especiais de cortar e editar a bel-prazer.
No real, tudo tem um ônus.
Do convívio de qualquer laço, riscaram  o incondicional.
De graça, virou piada no capitalismo selvagem das emoções.
Há que se descobrir uma maneira de quitar as penas do coração e acertar os números  do amor.
Aceitar de bem-se-querer, quitando cobranças pessoais  antigas e desconhecendo novas. 
Quem sabe, escrever episódios possíveis de contracenar.
Produzir séries de combinações e imagens para colorir as telas do cotidiano.
Monólogos todo dia são tristes de doer.
Deixar o coração escrever...
O meu cismou que é primavera. Nem liga pra calendário. Sabe de cor que ano acaba , mal começou.
Só pensa e  enxerga flores. Deve ser coisa da chuvarada. Minha terra virou jardim.
Honrando o nome,  também a jardineira do apê. Cenário  poético para os ensaios da minha  vez. Com uma braçada de “beijinhos,” ela cumprimenta e consola os atores das peças diárias.
Da jardineira florida vejo o riso da infância, a juventude usando e vivendo as suas modas e as pessoas grandes nas falas  apaixonantes de errar ou acertar.
No horizonte infinito, onde a alegria e suas irmãs desenham o arco-íris poetizando  o milagre de existir, repouso o espírito para estudar atentamente o meu papel e improvisar  se for preciso,  para ser feliz quando puder.  
Lindo, exuberante e esfuziante, ele decerto é um sorriso do céu.

Divulgado resultado da seleção da Galeria de Arte da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais- GUSTAVO CAPANEMA

Foi divulgado, nesta terça-feira (18), o resultado da seleção artística para ocupação da Galeria de Arte durante este ano. Foram classificadas as propostas que alcançaram nota igual ou superior a 70% na avaliação feita por cinco profissionais da área de artes plásticas. As exposições acontecem de março a dezembro, sendo 15 dias corridos para artes plásticas e cinco dias úteis para artesanato. Foram selecionadas propostas para exposições de pintura, escultura, fotografia, gravura, oficina de origami e artesanato.
Os artistas e as instituições escolhidos são Vanice Ayres Delgado, Deise Oliveira da Silva, Fabrícia Almeida Batista, Rosângela Menezes, Scheila Sílvia Maciel, Yoshiko Inowe Honda, Simone Maria da Silveira, Denise Antunes, Helena Mooren, Carmen Rios, Angelillo Michele, Sérgio Ribeiro, Renata Menezes, Sandra Augusto, Vilmar Oliveira, José Ferreira de Resende, Instituto Opará, Bordadeiras de Andrequicé, Rachel Gouvêa de Resende, Andréa Greco e Deia Leal.Os artistas não selecionados têm prazo de 30 dias para retirarem seus portfólios na administração do Espaço Político-Cultural Gustavo Capanema, no horário das 8 às 18 horas. Os materiais não retirados nesse prazo serão descartados, conforme prevê o edital de seleção.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Poemas de J.B.Donadon-Leal


Vaso - Deia Leal - Acervo do Acadêmico Manoel Hygino

POEMAS  de J.B.Donadon Leal *

CONQUISTA

Embriagado de você
o vulto da paixão que vaga
dentro do meu peito
arrebenta-se na sombra cega
dos meus olhos castanhos
por ganhos de um fruto
no alto da galha que não tenho.
Embriagado de você
meus membros sentem a vaga
luz do lume do seu jeito;
arrebata-se no furor que cega
seu verde luzir em estranhos
golpes de fuga do olhar bruto
como água da talha que tomar não venho.
Embriagado de você
meu verso pede rima e adaga:
uma sonoriza outra rompe o feito;
acomoda-se: tudo aceita, tudo nega,
numa infinda entrega, como sais nos banhos.
E me dissolvo sem me ver destruto
na lassa falha de amar; meu fim desenho.


***

APRENDER A APRENDER

A bruma da manhã
testa a paciência do dol
ao interferir na monotonia.

O sol, olho didata,
de privilegiado lugar
sabe-se diferente a cada segundo
em seu ludismo
de rolar a terra incessante
e esconder de si a nuvenzinha tola
que de dorso frio na altura
chora chuva fina e se vai
abrigar na pele aconchegante da terra
pra no lago quente se brumizar de novo
e brincar de esconder o sol
que rola a terra ensinando
aprender a aprender a diferença infinita
na monotonia aparente do sistema.

A bruma da manhã
se testa na paciência do sol:
ferem juntos a sucessão circunferente
num lúdico e diuturno aprender.

***
VOZ DE POETA

Minha voz de poeta
Silenciosa
Se diz em meditação.
Minha voz de profeta
Licenciosa
Se diz maldição.
Minha voz monifesta
Ditosa
Se diz a foz do não.
Enquanto minha voz discreta
Irrompe do peito o tom do trovão
Águo a ira inda pupa no aguardo
Do pecado já cometido
No dia do juízo
No dia preciso
Diante da luz
Terna
Do relâmpago artificial
Na rede elétrica da minha bondade.
Minha voz de sóis completa
Copiosa
Sua raiva dos traços da mão.
Haja voz, nós das gargantas,
Sazonal humor qual céu de verão,
Minha voz de poeta
Deleitosa
Toca as linhas do coração.

In: Aldravismo – a literatura do sujeito. Ed. Aldrava Letras e Artes, 2002.


* Jornalista, ensaísta, poeta e editor. Doutor em Semiótica pela USP - Pós-doutor em Análise do Discurso -UFMG

Infertilidade

INFERTILIDADE

* Andreia Donadon Leal - Deia Leal

Paleta para um Carnaval Melhor - Deia Leal- 2010

A tarefa de um cronista tem gosto paradoxal na descrição; às vezes, fictícia e na maioria das vezes, factual. O processo criativo tem gosto azedo e doce ao mesmo tempo. Quando estou despida de ideias e assuntos interessantes para escrever textos, volto a observar discretamente (tento não ser indiscreta, mas, às vezes, extrapolo, sem querer) fragmentos de conversas, diálogos, situações corriqueiras em bares ou nas ruas. Adoro bares! Bares meio cafonas. Sou meio intelectual, meio jeca, cafona também, e não tenho problema algum em assumir minha cafonice. Muitos mineiros ainda são assim. Mineiros do interiorzão. Observar casais de namorados apaixonados, então, é néctar dos deuses para um escritor. Ilusão e delicadeza nímias estão impregnadas nos gestos e nas ações melosas e veludosas. Hormônios em pleno funcionamento; batimentos cardíacos acelerados, brilho nos olhos e cabeça nas nuvens.
Cada fase tem seu encantamento, sem dúvida. Envelhecer, por exemplo, é extremamente encantador (sinal que vivemos).  Primeiros fios de cabelos brancos; primeiras rugas; primeiros passos trôpegos; experiência acumulada; minutos, segundos e horas são extremamente valorizados; ironia mais presente; mais apego às pessoas do que aos bens materiais. Indubitavelmente, há beleza nesta fase. Há encantamento até na morte (não estou sendo irônica, mas realista). É tradição, o defunto ou a defunta ficarem estáticos no caixão, por motivos óbvios; pessoas ao seu redor, chorando ou lamentando seu passamento. O morto ainda recebe coroas de flores, frases saudosas e elogiosas, beijos na testa, carícias no rosto. Ele é a atração de uma cena banal. Morrer é trivial, certeiro, rotineiro e chato. Ser velado é chato, para o defunto que não sabe que está sendo velado, e mais ainda, para as pessoas que velam o morto, à noite inteira e grande parte do dia. É uma chatice perversamente dolorida para os parentes, também.
Hoje não estou em um velório (ainda bem!), não estou em um bar meio cafona, observando pessoas ou jogando conversa fora, com a costumeira turma de poetas de Minas; também não estou suspirando discretamente, quando olho de soslaio, um casal de namorados apaixonados, que troca olhares faiscantes e carinhos exagerados, como se não existisse mais ninguém naquele recinto ou na face da terra, ou melhor, não houvesse nada mais além do que aquela paixão arrebatadora e pungente. E não existe, mesmo! A primeira paixão é cegante. Os leitores provavelmente intuíram que eu também não estou em nenhum desses lugares mencionados. Alhures, resolvi acessar algumas imagens e situações corriqueiras da memória, para ativar os instintos criativos e usá-los para escrever. São inúmeros fragmentos guardados. Estou em um momento de encantamento: sentada no vaso sanitário, no banheiro de minha casa, escutando um som longínquo de música sertaneja, (provavelmente, algumas pessoas estão comemorando o aniversário de alguém) mesclado ao barulho repicado das chuvas finas tocando no chão. Hoje, especificamente hoje, estou em uma fase de encantamento: a corriqueira infertilidade de ideias, de motivos e de inspiração para escrever...


* Escritora, Artista Visual e Mestranda em Literatura-Cultura e Sociedade pela UFV.